Um projeto desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Socioeducativo e Cultural da Bahia (Adesc) está ajudando cidadãos e cidadãs camaçarienses a gerar novas possibilidades de trabalho, com base no associativismo e cooperativismo. É o projeto Moinho Solidário, que já capacitou em Camaçari cinco agentes de desenvolvimento para identificar e mobilizar os empreendimentos econômicos solidários de três bairros da sede: os PHOC’s I, II, e III.
Com o apoio da coordenação do projeto, esses agentes analisam a situação do empreendimento a partir de um estudo de viabilidade econômica. Para a coordenadora Leide Santos, a economia solidária é uma boa opção de desenvolvimento para um município como Camaçari, que tem um PIB elevado, mas ainda apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo. “O maior desafio é que a população ainda tem uma cultura muito individualista, o que dificulta a compreensão sobre a economia solidária, o modo de produção cooperativista”, disse.
Desenvolvido em parceria com os Ministérios do Trabalho e da Justiça, o projeto Moinho Solidário tem como objetivo prevenir a violência através da geração de trabalho e renda. Os empreendimentos, que já foram identificados, estão na fase de implantação com a aquisição dos equipamentos. A equipe técnica conta com profissionais de diversas áreas: gestão do empreendimento, finanças e apoio psicossocial. “Percebemos que o grupo não consegue administrar bem as finanças porque as relações são conflituosas”, destacou a coordenadora do projeto.
O Moinho Solidário atende principalmente jovens e alguns deles vêm do sistema prisional e das casas de acolhimento. O principal resultado das ações é uma melhoria nas relações interpessoais e na saúde afetiva dessas pessoas. O empoderamento das mulheres é outra grande conquista do projeto. Elas ganham mais autonomia, conhecem outros ambientes e estabelecem novas relações. Maria da Penha Silva, aos 55, está desempregada há 3 anos e em casa já trabalha com doces finos. Ela faz um curso de doces e salgados que está sendo oferecido para outras 21 mulheres através do Qualifica Bahia, um Programa da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE). “Sou muito velha para conseguir um trabalho de carteira assinada e muito jovem para me aposentar, então a cozinha comunitária é uma boa opção para que eu possa trocar experiências e ter a minha própria renda”.
Cozinha Comunitária promove cursos na área de alimentos
O curso de doces e salgados tem duração de 2 meses e é organizado em duas etapas: uma teórica e outra prática. Na teórica, as 22 mulheres inscritas aprendem sobre segurança do trabalho, higienização dos alimentos e têm noções importantes sobre ética e cidadania. Na prática, aprendem o básico sobre doces e salgados e exercitam as noções sobre segurança e higienização. A facilitadora Lígia Silva explica que, após o curso, a mulher pode optar por fazer parte da cozinha comunitária ou é encaminhada diretamente para o mercado do trabalho.
Empreendimentos Econômicos Solidários - A cozinha comunitária é um dos poucos grupos econômicos solidários de Camaçari. Ela foi criada em abril de 2012 por dois homens e duas mulheres da Rede de Gestão Integrada com o objetivo de incentivar a formação de novos grupos. A cozinha funciona na sede da Rede, da qual faz parte a Adesc e outras cinco organizações sociais: Centro de Integração, Inclusão e Promoção Social (CIPS), Centro de Atividades Sociais dos Produtores Autônomos de Camaçari (CASP), Rede Aberta da Sociedade Civil Organizada, Associação Socioambiental da Bahia e União das Organizações Sociais e Culturais de Camaçari (UOSCC).
A cozinha comunitária atende o bairro da Gleba C.
O grupo produz refeições para a comunidade da Gleba C e para as necessidades internas da própria Rede de Gestão Integrada. O rendimento médio por pessoa é de R$300 e cerca de 80% é investido na manutenção e aparelhamento da cozinha. De acordo com o assessor técnico do projeto Moinho Solidário, Rogério Luiz, o maior entrave para o desenvolvimento do grupo é a falta de capital de giro para fazer compras mensais e garantir uma infraestrutura adequada, além da escassez de espaços de comercialização de produtos da economia solidária. “Quando há interesse em trazer uma empresa para ser instalada, há uma grande mobilização por parte do poder público, mas quando precisamos apoiar iniciativas da comunidade encontramos diversas barreiras. Será que isso é justo?”, questionou.
Cooperativa de corte e costura necessita de apoio na formação de pessoal
A cooperativa de corte e costura é outro grupo de economia solidária que está sendo gestado pela Rede de Gestão Integrada. Um grupo de oito mulheres atualmente presta serviço para empresas e consegue gerar um rendimento médio por pessoa de R$400 a R$800, a depender da demanda. A coordenação da cooperativa informou que o grupo ainda precisa se aperfeiçoar com novos cursos e equipamentos. O grupo dispõe atualmente de uma fechadeira e 17 máquinas retas, sendo que apenas oito estão funcionando.
 Comercialização – Para auxiliar os empreendimentos no processo de comercialização, o Projeto Moinho Solidário já desenvolveu uma primeira etapa de Mostras de Economia Popular Solidária, onde aconteceram exposições de produtos e mostras culturais. Alguns produtos de comunicação estão sendo elaborados para auxiliar nesse processo de comercialização: um documentário sobre a história dos produtores e um catálogo de produtos. “O que é bacana é que esses produtos serão realizados por jovens do projeto através de um processo de formação em comunicação”, comentou a coordenadora Leide Santos. Esses jovens também estão sendo capacitados para produzir os boletins informativos do projeto em blogs.
Política Pública – A Economia Solidária (EcoSol) é uma política de desenvolvimento sustentável pautada num conjunto de práticas de produção, comercialização, finanças e consumo de bens e serviços que considera o ser humano como sujeito e fim da atividade econômica. De base associativista e cooperativista, esse tipo de economia tem como princípios a propriedade coletiva dos meios de produção, a autogestão, a equidade nas relações de gênero, raça e geração, a sustentabilidade ambiental, e o fomento ao desenvolvimento comunitário.
Uma das principais conquistas do Movimento de Economia Solidária no Brasil foi a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, em 2003, pelo governo federal, e o Conselho Nacional de Economia Solidária, em 2006. Atualmente, vários trabalhadores são beneficiados por essas iniciativas, como o Projeto Nacional de Incubadoras de Cooperativas (Proninc), que apoia 33 incubadoras universitárias de cooperativas populares no país, gerando mais de 14 mil postos de trabalho diretos ou por parceiras com prefeituras.
Fonte: http://nossacamacari.org.br/2012/11/05/projetos-de-economia-solidaria-geram-trabalho-e-renda-em-camacari/